quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Idolatria Otaku

Ser otaku (ou otome, a versão feminina) no Brasil e no Japão possui significados diferentes e não tem necessariamente nada a ver com ser fã de mangá e animê. 
Alexandre Nagado postou mais uma matéria interessantíssima no seu blog sobre o mercado de entretenimento japonês, mostrando o papel dos artistas e como eles são descartados pela indústria.
Segue um resumo:
O otaku original é produto de uma sociedade rígida e altamente controlada e repressora como é a japonesa. Muitos acabam tendo em algum hobby sua válvula de escape e a isso dedicam suas vidas de modo excessivo. No mundo pop, os artistas encaram, além dos fãs e admiradores mais tradicionais (ou “normais”), os chamados otakus idólatras, aqueles que vivem em função de seus ídolos de forma doentia. E isso leva a comportamentos perigosos em alguns casos extremos. Quando um ídolo pop se casa ou anuncia namoro, por exemplo, é comum que sua companheira ou companheiro receba ameaças de morte. Algumas gravadoras exigem que seus artistas sejam celibatários, apenas para manter aceso o sonho dos fãs. O otaku idólatra se sente traído se sua musa revela ter uma vida social ou amorosa.
Aya Hirano
A dubladora, cantora e atriz Aya Hirano (Death Note,Suzumiya Haruhi), quando começou a posar para fotos eróticas, dar declarações picantes e virou assídua frequentadora de colunas de fofoca, começou a perder trabalhos e a ganhar ódio de outrora fãs. Esse nicho das dubladoras é um filão bastante explorado dentro da indústria do animê. É no Japão que os dubladores ganham um destaque como não existe em país algum. 
Dubladoras são tratadas como deusas por causa da voz angelical e envolvente que muitas colocam em suas personagens. Na cabeça do fã idólatra, é como se a dubladora fosse a versão em carne e osso da heroína, sua alma e sua personalidade. Mas há uma categoria de artistas no Japão que é vista e concebida para ser objeto de adoração e idolatria. São as idols, cuja tradução grosseira para "ídolo" não mostra o significado que o termo tem em seu país. Uma típica idol é geralmente atriz, cantora e modelo. Muitas também se tornam gravure idols, modelos que posam para luxuosos livros e revistas estampando fotos com roupas da moda, trajes de banho e lingeries, sendo que muitas são meras adolescentes. 
Mari Iijima
Quase 30 anos atrás, a cantora Mari Iijima cantou músicas e dublou a heroína Lynn Minmay no clássico Macross. Para fugir da pressão da indústria, se mudou para os EUA onde desenvolveu uma carreira modesta, mas ela preferiu isso a ter sua vida controlada pelos fãs e empresários. Revistas especializadas em ídolos - como a Voicha (Shinko Music Entertainment Co.) - estampam fotos e entrevistas com dubladores e esses ganham status de estrelas dentro de nichos de mercado. 
E entre os otaku idólatras, há os stalkers – perseguidores – que causam arrepios em suas vítimas. Alguns invadem as casas, fazem coisas obscenas, enviam ora cartas de amor ora ameaças de morte e em alguns casos, obrigam a artista a se afastar do meio tamanho o tormento que eles trazem. 
Recentemente, foram registradas muitas situações constrangedoras envolvendo integrantes do coral pop AKB48 em eventos de encontro com fãs (geralmente com fotos e aperto de mãos). 
AKB48
Segundo denúncias das próprias integrantes, alguns otakus aproveitaram a proximidade na hora do autógrafo, foto ou cumprimento para dizerem obscenidades ou tentarem tocá-las de modo mais afoito. Isso provocou protestos e indignação de artistas e empresários da banda. 
Como o índice de suicídio entre artistas é grande no Japão se comparado a outros países, dá para se imaginar como é viver entre a pressão para se manter no mercado – para ser descartado depois - e preservar a sanidade perante os fãs dos mais variados tipos. É o preço a se pagar em um sistema que incentiva e explora o fanatismo e a idolatria, onde muitos artistas são tratados como meros produtos de vida efêmera.


Para ler a matéria na integra acesse: Idolatria e Perseguição no Mundo Otaku

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