quarta-feira, 19 de maio de 2010

Estilizando o Vampiro, ou o Erro Fatal de Stephenie Meyer

Desculpem se eu digo isso, mas vampiros se desfazendo em cinzas com inocentes raios de sol é uma invenção hollywoodianesca tão tosca quanto os vampiros brilhantes de Crepúsculo. O fato é que filmes são muito mais curtos que livros, então, há certas liberdades poéticas que foram tomadas com os vampiros ao longo dos anos que não existiam originalmente no mito.
Vocês devem estar se perguntando agora, então: por que os vampiros-fogueira foram aceitos enquanto os brilhantes são toscos, se nenhuma das duas pirotecnias tem qualquer base?
É aí que entra a diferença entre o vampiro-tocha e o vampiro-purpurina. Stephenie Meyer cometeu erros sérios de estilização ao criar seu vampiro. Ela manteve três atributos importantes do vampiro: ele é morto, ele é sedutor e ele bebe sangue. Fim de papo. Alguém percebeu que falta algo muito importante aqui? Não?
Eles não são noturnos! Desde a aurora da humanidade, os vampiros são um mal. E, como dizia Conan Doyle, é à noite que os poderes do mal são exaltados. Parece bobagem, mas ao fazer com que eles andassem pra lá e pra cá impunemente à luz do Sol e quase não tivesse cenas à noite na série Crepúsculo, Meyer tirou os chifres do touro. Não é porque os vampiros brilham. É só que nosso subconsciente nos diz, instintivamente, que eles não se enquadram exatamente naquilo que nos acostumamos a chamar de vampiros.
É verdade que a imagem dos vampiros (por exemplo) mudou muito desde as primeiras histórias de cadáveres sugadores de sangue até hoje. Mas isso não foi de uma história para outra. Foi gradativo e, até onde pude notar correndo os olhos em histórias de vampiros do século XIX, eles acrescentaram muitas coisas ao mito original, mas tiraram bem poucas. Ainda usando comparações desenhísticas, creio que eles pegaram um rascunho (geralmente, criaturas mitológicas em seu estado bruto não são muito mais que isso, vide descrições de lendas brasileiras) e o arte-finalizaram, mas permitido que ainda fossem reconhecíveis os traços principais. Pegar esse desenho e distorcê-lo até só sobrar o branco dos olhos é como revisitar a Monalisa desenhando uma loura de biquíni. Pode ser um desenho sensacional, mas se a tal loura não tiver nem o sorriso misterioso da Gioconda, como um desavisado poderia dizer que se trata de uma revisitação de DaVinci?




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O Conservatório

Um comentário:

  1. o que caracteriza um vampiro é uma série de elementos que vão se acumulando/transformando com o tempo. aquela criatura de lendas lááá da antiguidade não tem muito a ver com o "vampiro" vlad tepes, que por sua vez recebeu uma até então nova roupagem no livro de bram stoker (aliás, seu drácula podia encarar numa boa a luz do dia), passando mais recentemente pelos vampiros da anne rice (que já se tornaram meio chatinhos, mas tentaram de alguma forma dar continuidade à imagem mais clássica) e, por fim, esse "crepúsculo", bastante descaracterizado. acho que o que mata nesses livros/filmes não é nem bem o fato de os vampiros serem tão diferentes, mas porque a trama e a caracterização das personagens são fracas mesmo.

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