Em Masterpiece Comics, Robert Sikoryak se destacou por sua perspicácia e habilidade de emular traços.
O ilustrador Sikoryak foi colaborador habitual da revista Raw de Art Spiegelman e produziu várias capas para a prestigiada New Yorker.
Não apenas os traços, mas também as características narrativas e de composição de diversos artistas. Habilidade fundamental para a proposta de Masterpiece Comics.
O artista vai além no conceito de adaptação. Em vez de simplesmente adaptar um romance em prosa para diversos quadros numa página, Sikoryak optou por unir clássicos dos quadrinhos norte-americanos aos clássicos da literatura ocidental.
Dessa forma, Morro dos ventos uivantes, de Emilly Brontë, é adaptado com o traço característico das histórias de terror da EC Comics, de Contos da Cripta e se torna The Crypt of Brontë; o Batman desenhado por Dick Sprang em Detective Comics encarna o personagem Raskolnikov, do livro Crime e Castigo, de Fiodor Dostoyevski, em Dostoyevski Comics; Charlie Brown vira personagem de Franz Kafka, Garfield, o Mefistófeles do Fausto
goethiano e muitos outros. Se quiser conhecer a lista completa, pode ler no blog português LERBD. Mais imagens no site da revista Bravo.
E na inusitada aproximação entre a arte popular dos quadrinhos e a arte erudita da literatura, Sikoryak traz à tona as similaridades entre elas e, por consequência, uma visão avaliativa sobre as duas obras.
Ao aproximar Raskolnikov de Batman, mostra-se que o personagem da DC, muito mais que vingança e altruísmo, é movido pela culpa. Já Raskolnikov consegue se mostrar mais humano ao ser comparado com um herói já retratado diversas vezes de modo maniqueísta e plano.
A simples possibilidade de aproximá-los já demonstra as similaridades. O Garfield como um demônio cruel, sedutor e manipulador não é novidade para os leitores das tiras criadas por Jim Davis. Mas tudo ganha nova perspectiva no trabalho de Sikoryak.
Dois dos melhores momentos do álbum são Charlie Brown como o protagonista de A metamorfose, de Kafka - quem já leu a ambos certamente vai pensar: "é claro!"; e Little Nemo como corpo para O retrato de Doryan Gray, de Oscar Wilde, com direito à pagina dupla, simulando um jornal.
A arte do ilustrador Sikoryak é minuciosa e não debocha dos parodiados. Pelo contrário, os homenageia. A proposta do artista é parecer com o artista original. E ele consegue.
Fecha o álbum uma mistura de Esperando Godot, de Samuel Beckett, e Beavis e Butt-head. Genial e divertido.
Outro efeito obtido pela junção criada por Sikoryak é a dessacralização dos clássicos literários.
Resta torcer pra que esse material desembarque em terras nacionais, pois Masterpiece Comics já é um clássico!
Adaptado do blog Universo HQ
Para saber mais acesse o site do ilustrador.
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