sábado, 1 de outubro de 2011

Rock in Rio 1985

Atualmente, não é difícil ir a um festival de música no Brasil. Existem muitos, com as mais variadas estruturas e gêneros musicais.
Por Izadora Pimenta
Só em 2010, tivemos desde os grandes SWU, Planeta Terra e Natura Nós até os independentes que pipocam por todo o país. Alguns, extintos, também já marcaram época, como o Tim Festival, responsável por trazer nomes como Julian Casablancas e seu Strokes, e o Hollywood Rock, que deu palco a uma histórica e bizarra apresentação do Nirvana. Mas talvez nenhum deles teria se aventurado da mesma maneira se o Rock In Rio não tivesse dado o ar de sua graça. “Foi o nosso primeiro grande festival. Só isso já bastaria para entrar na história”, como sintetiza Marcelo Costa, editor do Scream & Yell.
Mas a situação em 1985 era bem diferente da qual nos encontramos hoje: o país estava acabando de se livrar do fantasma da ditadura militar, a realidade econômica era bem diferente e a América Latina inteira passava longe da rota dos shows dos grandes artistas internacionais. De repente, 14 atrações nacionais e 15 internacionais aportavam de uma vez só na Cidade do Rock, construída em um terreno de 250 mil metros quadrados na Barra da Tijuca. No espaço, além do palco, dois shopping centers com 50 lojas, dois centros de atendimento médico e uma loja do McDonald’s (que entrou para o Guiness Book, por vender 58 mil hambúrgueres em um único dia). Na época, a expectativa criada em torno do Rock in Rio era enorme. “Todo mundo queria estar lá, com aquele bocado de matérias toda hora aparecendo na TV, no jornal, aquilo criava uma expectativa imensa. Era um lance de querer participar – sentimento que carrego até hoje nos festivais que vou: quero participar. Aliás, todo mundo queria participar”, conta Fernando Lopes, 37 anos. “Foi incrível. A Cidade do Rock era uma arena gigantesca com um público o mais diverso que se pode imaginar, desde a “turma da pesada” até casais de namorados. Foi o encontro de tribos mais pacífico que já presenciei até hoje”, completa o jornalista Ney Motta, de 45 anos.
E tudo começou com um público de 380 mil pessoas, daquelas muitas que seguiam as tendências do momento, com seus mullets e ombreiras. Elas usavam luvas verdes fosforecentes às seis horas da tarde da sexta-feira, 11 de janeiro, quando o ator Kadu Moliterno, escolhido para ser o apresentador, deu início a tudo aquilo. E quem teve a honra de batizar o palco foi o performático Ney Matogrosso, um brasileiro no meio de um cenário que, quase que de forma homogênea, ainda não acreditava na música nacional. “Eu previa uma vaia estrondosa de todos os metaleiros que estavam ali para assistir ao Iron Maiden. Foi um rebuliço geral, ao mesmo tempo que vaiavam ele, gritavam como vitoriosos. Quando o Ney subiu no palco, cantou a primeira música. Trocou de roupa lá mesmo no palco, cantou a segunda, a terceira e daí em diante e a galera respeitando ele, eu pensei ‘mas não é que nós metaleiros somos muito educados mesmo’”, conta Motta.


O maior show e cachê do Rock in Rio 
O show mais visto do Rock in Rio I no mundo foi o do Queen de Freddie Mercury. Enquanto 250 mil pessoas cantaram Love of My Life em coro, 250 milhões assistiram ao show pela televisão, em todo mundo. Até a MTV americana transmitiu. Pode-se dizer que o Queen foi um dos responsáveis pelo sucesso do Rock in Rio. A banda foi a primeira grande atração a confirmar presença na Cidade do Rock, e só depois deles os demais artistas internacionais passaram a confirmar presença no festival. Não à toa, eles ganharam o maior cachê, que foi de 600 mil dólares. 




Foi só depois dali que a gente virou profissional” A partir do Rock in Rio, o rock brasileiro começa a se profissionalizar, tentar fugir um pouco dos padrões gringos e se adaptar a uma realidade. A maioria das bandas ainda era muito inexperiente, não acostumada aos eventos e grandes estruturas profissionais. E não só as bandas: os técnicos de som também passaram a entender melhor como funcionava a estrutura musical e profissional necessária para a operar em grandes shows. Em entrevista à Revista Bizz na época, Guto Goffi, do Barão Vermelho, lançou a seguinte declaração: “Os artistas da MPB eram relapsos em relação à qualidade dos equipamentos. O Rock in Rio ajudou a mudar isso”. Paula Toller (Kid Abelha), também à Bizz, confessou: “Foi só depois dali que a gente virou profissional”.
Resumo da matéria postada originalmente no site: Rocknbeats

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