domingo, 23 de outubro de 2011

MetaMaus

A análise de um clássico dos quadrinhos modernos.
Maus de Art Spiegelman é uma das mais conhecidas e aclamadas Graphic Novels; um clássico moderno; um trabalho único, cuja importância justifica totalmente a publicação de MetaMaus. O livro é essencialmente uma compilação de entrevistas feitas com Art Spiegelman nas quais ele explica praticamente cada aspecto do doloroso processo que levou à criação de Maus. 
Parte do motivo de Maus ser considerado uma palavra chave no tangente ao desenvolvimento de graphic novels modernas é o modo como Spie9gelman administra o caráter autobiográfico e o valor documental da história. Se a obra fosse um desenho animado ou simplesmente uma história sobre uma família disfuncional de sobreviventes dos campos de concentração, com certeza ela não seria dotada de metade da complexidade que à caracteriza. 
Em MetaMaus, Spiegelman fala honestamente e com riqueza de detalhes sobre cada aspecto da produção, seu complexo relacionamento com seus pais, sua pesquisa diligente sobre o holocausto e as suas dificuldades em transmitir todas as informações adquiridas e experiências em forma de arte sequencial. MetaMaus traz, além dessas informações, várias ilustrações; tanto trabalhos do próprio Spielgelman quanto de outros artistas, e fotografias que fizeram parte do extensivo trabalho de pesquisa. Os leitores irão terminar MetaMaus com um sentimento de reconhecimento e admiração pelas quantidades de esforço que a criação de Maus demandou, assim como todos os grandes insights que ocorreram durante a criação e o potencial que surgiu, para o que, inicialmente, seria apenas mais um trabalho na estante de quadrinhos das livrarias.

Spiegelman não nasceu com toda essa maestria, seu talento é fruto de um trabalho intenso e esforço constante, ambos vindos de uma mente inteligente e afiada que raramente se satisfaz com os resultados que alcança. Assim como a maioria dos melhores artistas autobiográficos de sua geração, ele não tem medo de demonstrar seus preconceitos, suas falhas, seus pontos cegos, sejam eles artísticos ou pessoais. 
MetaMaus é um testemunho de sangue, suor e lágrimas que resultou na criação de uma obra-prima moderna. O DVD que o acompanha expande o que é exposto nas páginas do livro. Ele inclui a saga Maus digitalizada completa, além das entrevistas que Spiegelman fez com seu pai falando sobre os campos de concentração (algumas das partes que são apresentadas nas páginas finais de MetaMaus), e ainda mais fotos, sketches, desenhos e vídeos.

Reviews Maus – A História de Um Sobrevivente
Por Pedro Campos
MAUS é a história de como Vladek Spiegelman sobreviveu à perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial contada e ilustrada por Art Spiegelman, seu filho. Neste quadrinho somos apresentados aos horrores do holocausto daquela época e em como isso pode influenciar a personalidade de uma pessoa que consegue passar por aquilo e sair vivo. Em 1980, Art Spiegelman teve a idéia de narrar a história de seu pai, mesmo não tendo um contato verdadeiramente próximo desde a morte de sua mãe, anos antes. Para isso, começou a visitá-lo em sua residência, onde mora com sua atual esposa, e registrar a narração de tudo que aconteceu, desde antes de seus pais se conhecerem na Polônia. Temos a oportunidade de conhecer verdadeiramente seu pai e sua família, mesmo não tendo sobrado praticamente nenhuma família para ser lembrada, ao mesmo tempo que percebemos que essa história poderá se tornar uma redenção para aqueles dois que, de tão parecidos, nada tem em comum. 
O quadrinho todo acontece por meio de flash back, onde podemos ver o tempo “presente” dos protagonistas e o passado nos tempos de guerra. É interessante perceber o quanto todos aqueles acontecimentos conseguiram moldar a personalidade de um homem e como isso se reflete naqueles que estão a sua volta constantemente. Esse vai e vem consegue captar com maestria todos os problemas diários do relacionamento dos dois como a falta de paciência do filho com o pai, o amor incondicional do pai para o filho, a avareza e disciplina do pai e, principalmente, percebemos o amadurecimento desta relação. Nesse ponto, gostaria de comentar algumas coisas… Compreendo o sucesso que MAUS faz com diversos leitores e criticas no mundo todo como uma grande história da Segunda Guerra, mas é bom avisar que se alguém chega ate aqui esperando aprender mais sobre isso, vai perder bastante tempo. 
Não é que algo esteja errado com os acontecimentos, mas, em todo o quadrinho, só conseguimos ver o sofrimento e desespero daqueles que foram massacrados durante aquele período, os judeus. Vladek Spiegelman não participou de nenhum grande acontecimento histórico ou ao lado de algum grande personagem daquela época. Sem querer bancar o insensível, este quadrinho não vai lhe mostrar mais ou menos sofrimento do que praticamente todos os filmes, livros, resenhas e, por que não, corrente de e-mails sobre o holocausto já mostram. Em alguns momentos, penso ser ate apelação por parte de Art Spiegelman em se focar em sofrimento, crueldades e mortes. O quadrinho perdeu muito do seu crédito comigo em especial no trecho entre as páginas 171 e 176, quando Art, conversando com sua esposa, comenta que “na vida real, ela nunca o deixaria falar tanto sem o interromper”. 
Pode ser engraçado a princípio, eu concordo. Mas parando para pensar, a mesma história, contada de forma diferente, tem interpretações muito divergentes entre si. Nada contra a liberdade poética, eu a adoro. Em todo caso, em um quadrinho com o intuito de ser “jornalístico/realista”, penso no que devemos levar em consideração como realidade ou como fantasia. No que diz respeito à arte, em MAUS, Art Spiegelman se supera em criatividade ao relacionar judeus como ratos, alemães como gatos, americanos como cachorros, poloneses como porcos e franceses (existe somente um na historia) como sapos. É verdadeiramente engraçado como casa perfeitamente para a história essas analogias. Porém, nem de boas idéias o mundo sobrevive, se não pudermos executá-las perfeitamente. Não atirem pedras… Digo isso por que encontrei alguns “fãs” que quando comentei a respeito só faltaram me crucificar e, na falta de argumentos melhores, me disseram: “então faz melhor”. 
É maravilhoso ver o quadrinho em preto e branco, porém os personagens não tem traços muito definidos, o que tira a personalidade de cada um deles. Há momentos em que 4 ou mais judeus se encontram e você facilmente se perde em quem esta falando o que por todos serem muito parecidos, para não dizer iguais. Quando há multidões então, esqueça! Releve e se sairá melhor fazendo isso. A boa parte é que essas situações são um tanto raras, não pela quantidade, mas pela proporção em que elas aparecem em suas 296 páginas. MAUS foi a primeira obra de quadrinhos agraciada pelo premio Pulitzer, algo como o Oscar do jornalismo, e tem muitos méritos quanto a isso, mesmo dando espaço para a dúvida. Afinal, e se não fosse sobre judeus sendo mortos por nazistas, a história chamaria tanta atenção em um país recheado deles?… Mesmo com alguns comentários acima em tons de crítica, são poucos os que conseguem consolidar algo tão denso e transpor para quadrinhos de modo bastante simples. 
Em todo caso, particularmente falando, penso que o relacionamento de pai e filho, alem dos reflexos que ele causa ao redor dos dois, são muito mais interessantes e me incentivaram muito mais a continuar lendo, que continuar vendo mais e mais judeus morrerem a cada página que eu virava. Talvez, devido a insistência em que Spiegelman nos mostra as crueldades, você acabe chegando ao final do livro sem sentir ou se importar com nada daquilo que aconteceu. Ou talvez eu esteja falando merda e tenha ficado assim por causa dos filmes do Lars von Trier. 
MAUS foi lançada em duas partes, sendo a primeira “MAUS – Meu Pai Sangra História” em 1986 na integra e a segunda parte “MAUS – E Aqui Meus Problemas Começaram” em 1991, cinco anos depois para completar o arco da história. No Brasil, foi lançado em volume único em 2005 pela editora Cia das Letras em um de seus trabalhos exemplares. Digo com certo conhecimento de causa, mas quadrinhos com essa gramatura de papel, encadernados da forma que MAUS é encadernado, não costumam ficar inteiros depois da primeira lida completa.

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