Nossa dica de leitura para o Halloween.
Com uma mistura de terror, suspense, aventura e ficção científica, bem característico de Ray Bradbury (autor de Fahrenheit 451), os contos deste livro têm algo em comum: mexem com a imaginação do leitor de uma forma inusitada. Não se espante com o monstro pré-histórico que vivem nas profundezas do oceano, nem com a jovem bruxa que se apaixona por um humano.
O desconhecido, o mistério e as surpresas são ingredientes que deixam os contos ainda mais interessantes.
No conto que dá título à obra, uma bruxa de 17 anos, chamada Cecy, descobre o amor. Impedida de se envolver com um humano, pois perderia seus poderes de bruxa, Cecy opta por entrar numa mente de uma garota para, assim, ter o seu sonhado romance.
Dessa forma, Cecy entra na mente de Ann, domina seus pensamentos, e faz com que a adolescente aceite a proposta de ir ao baile com Tom, um jovem apaixonado por Ann, sentimento não recíproco.
O conto contém muitas intrigas mentais entre Cecy e Ann, e as confusões mentais são mentais. A bruxinha se incorpora em Ann e se sente como um ser humano, aproveitando de cada momento do desfrute deste corpo. Mas o tempo passa e viver as suas emoções no corpo de Ann deixa de ser o suficiente para Cecy, nossa querida bruxa de abril.
Ray Bradbury aborda questões ligadas à identidade e a liberdade. A bruxa de abril demonstra os anseios que temos e que não podemos realizar por falta de liberdade e/ou pressão da sociedade. O que faz a bruxa ser o que é, não é o seu corpo ou o corpo que ela toma posse, mas a memória e a sua identidade, que permanece com ela, independente do tempo e de seus desejos. A cobiça de conquistar faz com que o indivíduo as vezes adquira novos valores, e desrespeite os de outras pessoas, podendo até mesmo fazer o mal para conseguir o que quer. Essa visão egocêntrica é aplicada ao conto, no modo de demonstrar o que a ganância pode levar a humanidade esquecer velhos princípios. Novamente, aqui o conto de ficção aborda o sentido do que é ser humano e as escolhas diárias da vida. Também podemos analisar a figura totalitária que impede a bruxinha de realizar seus sonhos, de modo que nem ela mesma sabe o que se passará no futuro, pois o futuro foi construído por algo maior que ela e que já existia antes dela, revelando uma estrita ligação com a nossa realidade, já que, mesmo em sociedades de teóricas liberdades, somos presos a conceitos e preconceitos que estão enraizados.
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