Um trácio, condenado à morte na arena, aguarda sua vez acorrentado numa masmorra abaixo do palco principal.
Acima dele, outro condenado já sangra, fazendo com que “chova” na masmorra. Some tudo isso ao calor escaldante, o rugido de uma multidão sedenta por sangue, o tremor causado pela aproximação da morte e um coração inflamado pela indignação e desejo de vingança. Quando os portões abrem, o trácio se vê mergulhado nesse turbilhão de emoções, e parte para encarar o seu destino.
Essa foi uma mera tentativa de descrever tudo que aguarda o espectador de “Spartacus: Blood and Sand”, que chegará ao Brasil pelo canal FX, em Agosto. A série, produzida pela STARZ (mesma produtora de Party Down) nos trás a história de Spartacus, cuja nação foi traída por Roma, e acabou se tornando escravo, transformado em gladiador e em seguida o líder da maior e mais famosa revolução do período romano. A lenda de Spartacus já foi talhada em uma infinidade de obras, sobretudo no cinema, onde o filme mais famoso é a obra de Stanley Kubric, “Spartacus”, que firmou Kirk Douglas como um grande ator e imortalizou o nome de Spartacus na cultura pop.
As séries de tv, com o passar do tempo, saíram do escalão “pouco produzidas e desenvolvidas” para o pedestal “obras-primas”. Não foi uma jornada fácil, pois um sériado de tv não tinha a mesma dinâmica do cinema, e prender o espectador era um processo de paciência e progresso constante. Séries como Cosby’s show (pioneiro no gênero “sitcom”) ou Jornada das Estrelas provaram que o futuro das séries alcançaria, literalmente, o status de obra prima comparável ao cinema. Na verdade, foi essa sensibilidade de sempre andar junto ao cinema que nos permitiu ser presenteados com obras ao nível de LOST, 24 HORAS, Breaking Bad, DEXTER e Game of Thrones.
Spartacus foi muito mais além.
A série foi idealizada por Steven S. DeKnight e é produzida por Joshua Donen e Sam Raimi (sério, parece que o querido Sam é uma constante nas coisas que assisto, fazer o quê!). Tal equipe foi a responsável pelo principal ponto a favor da série, que é o grande apelo visual. Além da obsessão em reproduzir os objetos e a cultura da sociedade romana em nível ultra-detalhado (comparável em muitos aspectos com a fantástica série ROMA), é o ritmo alucinante, as cores, as CÂMERAS LENTAS, as batalhas de tirar o fôlego que tornam a série inevitavelmente comparada ao esteticamente belo filme “300”, de Zack Snider (tenho que puxar essa sardinha, afinal é um dos meus diretores favorito). Sério, no primeiro capítulo de SPARTACUS, o show de cores e de lutas bem coreografadas torna inevitável não querer ver mais da série. É o filme 300 fazendo escola (e se concretizando como um gênero épico)!!! E é claro, some isso ao fato de que a cultura romana, na série, também é detalhadamente descrita em suas características SEXUAIS: escravos sendo dominados pelos mestres, orgias, homossexualismo... Tudo que fazia Roma ser “Roma”, na época..
Obviamente, não é apenas baseando-se no contexto visual que uma série sobrevive. Tal ponto a favor não se sustentaria se não houvesse uma excelente narrativa para a conpanhar – e que narrativa! – algo tão complexo e fantástico do que Spartacus e a arena dos gladiadores.
O Gladiador Spartacus (interpretado na série pelo brilhante Andy Whitfield) transmuta-se a todo o memento, e tão inconstância não é algo desfavorável, pois permite o desenvolvimento de infinitas prerrogativas sobre as reais intensões do escravo. E o mesmo acontece com todos os personagens ao redor de Spartacus: são obscuros, indecifráveis, mutáveis e – por tudo isso – inquietantemente fabulosos. Sura (Erin Cummings), a esposa de Spartacus, é uma mulher abrangente em sua relacão de total paixão com Spartacus. Quando Spartacus parte para a guerra, ela simplesmente fala “Mate todos eles”, o que só reforça o impeto e a natureza de uma mulher livre (e também como ícone pop). O maior gladiador de Cápua, Crixus (interpretado por Manu Bennet) praticamente cria a definição de rivalidade. Quintus Batiatus (John Hahhah, da trilogia “A Múmia”) e Lucrétia Batiatus (Lucy Lawless, a sempre maravilhosa XENA), são o casal que manda no “Ludus” de Gladiadores a que Spartacus se junta, e, sempre abordados pela perversa Ilithyia (Viva Bianca), são tão mesquinhosamente malvados, egoístas, vingativos e mostruosos que são capazes de te fazer amar “odiar” eles, tão bem os personagens vilanescos são construídos. Juro pra vocês, perto da Lucrétia e da Ilíthyia, Darth Vader, Sauron e Toguro não passam de três menininhos desmamados!
SPARTACUS: BLOOD AND SAND está em sua primeira temporada, e a segunda temporada já está confirmada, mesmo diante da situação médica do ator Andy Whitfield, que foi diagnósticado com um raro câncer maligno, mas que passa bem. Também foi encomendada pela STARZ uma minissérie e prequela, chamada Spatacus: Gods of the Arena, que conta os momentos anteriores à chegada de Spartacus ao campo de treinamento, e detalhes sobre a ascensão de Batiatus.
Com muitas reviravoltas (principalmente na forma como Spartacus encara sua própria condição de escravo), SPARTACUS: BLOOD AND SAND é uma ótima pedida para quem quer ver uma séria essencialmente simples, prazeirosa de ser assistida e principalmente constituída de todos os elementos que fizeram as séries (e porque não o cinema) galgarem os níveis de excelência atuais, e que atraem fãs cada vez mais.
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