sábado, 4 de junho de 2011

George R. R. Martin

Em 1994, o roteirista de televisão George R.R. Martin decidiu mudar de profissão e retomar seu passado pouco glorioso de escritor de fantasia e ficção científica.
Esta decisão era quase uma desforra contra os produtores de televisão. Ele pretendia criar um ambicioso épico de fantasia, com batalhas grandiosas, que ninguém ousaria levar às telas.
Dezessete anos depois, a televisão se curvou a Martin com a estreia mês passado da série A Guerra dos Tronos com um orçamento estimado em US$ 60 milhões. A obra é baseada no primeiro volume de sua saga de fantasia As Crônicas de Gelo e Fogo.
Nos 15 minutos da série revelados pelo canal americano HBO antes da estreia, já era possível perceber que ela tem pouco em comum com outras sagas de fantasia. Para quem se acostumou com o mundo de O senhor dos anéis, de J.R.R. Tolkien, em que as diferenças entre o bem e o mal são claras e o final feliz é quase inevitável, A Guerra dos Tronos parece pertencer a outro gênero. O mundo de Westeros, criado por George R.R. Martin, é repleto de sombras e sangue. Personagens recém-apresentados ao espectador podem morrer poucas cenas depois, sem aviso e de forma violenta, e a disputa entre heróis e vilões dá lugar a uma trama cheia de intrigas e traições, na qual diferentes clãs da nobreza disputam o poder sobre o reino.

Parte das mudanças no gênero pode ser atribuída ao meio escolhido para a adaptação: a televisão, e não o cinema. A audiência da HBO está acostumada a tramas mais adultas: o drama A família Soprano e o faroeste Deadwood são algumas de suas séries mais bem-sucedidas nos Estados Unidos. Para ser aceita por esse público, uma série de fantasia precisaria manter o tom adulto. A classificação indicativa, que impede cenas muito fortes nas grandes produções de cinema sob o risco de diminuir seu público (e seus lucros), não é uma preocupação tão grande para os canais de televisão. Isso permite exibir sem pudores imagens de personagens mutilados ou decapitados. Outra vantagem das séries sobre os filmes está na duração. Enquanto os três livros de O senhor dos anéis foram transformados em pouco mais de nove horas de filme, a primeira temporada de A guerra dos tronos terá dez episódios de uma hora para contar a história de apenas um romance. A maior duração dá espaço a uma trama mais lenta e elaborada, em que as intenções dos personagens se revelam gradualmente.
Mas o tom sombrio que caracteriza a série tem origem nos próprios livros. Em um universo literário dominado pela influência de J.R.R. Tolkien, Martin se recusou a ser um imitador. No mundo de Westeros, criado por ele, há pouca magia e muita humanidade. Seus personagens não são movidos pelo desejo de salvar o mundo, mas por motivos menos nobres: sexo, dinheiro e poder. Para escapar da influência de O senhor dos anéis, buscou inspiração no tom sóbrio adotado por escritores de romances históricos e acrescentou à fórmula técnicas que aprendeu como roteirista de televisão. Ao contrário de Tolkien, que se detém muitas vezes em descrições exageradamente detalhadas, Martin mantém a trama sempre em movimento e prende a atenção do leitor com “ganchos” ao final de cada capítulo. A fórmula deu certo: com os quatro romances de As crônicas de Gelo e Fogo, Martin tornou-se o escritor mais influente do gênero na atualidade – e o principal representante de uma geração de bem-sucedidos autores de fantasia.
Apesar do sucesso, a relação de Martin com os fãs nem sempre é amistosa. Sua demora de quase seis anos para lançar o quinto volume da série (A dance with dragons, previsto para julho) motivou a criação de sites de protesto. Alguns acusam o autor de ter perdido o interesse pela saga, que só será concluída no sétimo volume, e não dedicar tempo suficiente à escrita. Para eles, A guerra dos tronos é uma má notícia: a série, na qual Martin ocupa o cargo de produtor executivo, seria mais um motivo para afastar o autor do “dever” de terminar logo os três livros restantes. Os fãs menos impacientes de Martin – e de boas séries de televisão – vão gostar de ver o mundo de Westeros recriado nas telas, de uma maneira que Martin imaginava impossível em 1994.

Um comentário:

  1. apesar de eu não ter lido os livros, acredito que os fãs não deviam pressioná-lo demais para encerrar a obra, pois todo gênio passa por fases. Então o melhor a fazer é esperar ele mesmo decidir terminar a série e fazer bonito, do que cobrar algo e o resultado parecer forçado e "nas coxas", que é o que acontece normalmente quando um autor vai na onda do fãs apressados

    ResponderExcluir