Por mim se vai à cidade dolente,
por mim se vai à eterna dor ,
por mim se vai à perdida gente.
Justiça moveu o meu alto criador,
que me fez com o divino poder,
o saber supremo e o primeiro amor.
Antes de mim coisa alguma foi criada
exceto coisas eternas, e eterna eu duro.
Deixai toda esperança, vós que entrais!
No entanto, a coincidência de duas adaptações do texto para os quadrinhos invadirem as prateleiras das livrarias brasileiras ao mesmo tempo chega a ser engraçada.
A primeira delas, "A Divina Comédia de Dante", lançada pela Companhia das Letras, é uma experiência marcadamente autoral, fruto da imaginação do designer americano Seymour Chwast. O artista dá um tom "noir" de história de detetive dos anos 1950 à obra original italiana. Nesta versão, Dante e seu guia Virgílio vestem seus chapéus de feltro e vagam pelos domínios de um Inferno, um Purgatório e um Paraíso em estilo noir. No caminho, deparam-se com inúmeros pecadores e santos - muitos deles pessoas reais às quais Dante designa uma punição horrível ou prazeres indescritíveis - e ficam frente a frente com Deus e Lúcifer. Chwast cria uma fantasia visual a cada página, e suas ilustrações criativas resgatam a complexidade delirante desse clássico do cânone ocidental.
Mais narrativa e apegada ao texto original, "A Divina Comédia em Quadrinhos" tem árvore genealógica da Itália, mas está cheia de cores canarinhas. Foi produzida para a coleção Clássicos em HQ da editora brasileira Peirópolis pelo quadrinista italiano radicado no Brasil Piero Bagnariol com roteiro de seu pai Giuseppe Bagnariol com consultoria de Maria Teresa Arrigoni, especialista em Dante Alighieri.
De acordo com o local por onde passam os personagens, o estilo das aquarelas do artista varia. Coube a ele uma cuidadosa pesquisa iconográfica em parceria com seu pai, que realizou um estudo da vida de Dante Alighieri para embasar os roteiros de passagem entre um e outro trecho do poema. Os trechos escolhidos foram publicados na forma original das traduções, que por sua vez, foram escolhidas por Maria Teresa Arrigoni. Ela indicou para o Inferno a tradução de Jorge Wanderley; e para o Paraíso, a tradução de Haroldo de Campos. O Purgatório ficou por conta da tradução de Henriqueta Lisboa, escolha da Peirópolis, editora que cuida da obra da poeta e tradutora modernista.
Para quem quiser conhecer a obra é só clicar aqui.
Adaptado de matéria postada originalmente no site da Folha
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