Por Alexandre Nagado
Até hoje, é o melhor estudo já feito sobre essa dispersa tribo urbana japonesa, cujo nome é erroneamente atribuído no Brasil a fãs de mangá e animê. Tal definição reduz muito o significado da palavra, que não é vista com bons olhos por muitos japoneses.
A resenha abaixo, que dá uma boa ideia sobre a abordagem da obra, foi publicada em 17/04/2002 no portal Omelete. Leitura mais do que recomendada para quem gosta de cultura pop japonesa.
Otaku - Os Filhos do Virtual
Nos últimos anos, o fanatismo por desenhos japoneses tem criado uma grande tribo urbana que lota convenções e eventos que se espalham pelo país. São os otakus, que formam uma tribo tão hermética e com segmentos tão radicais quanto a dos trekkers, os fãs de Star Trek - Jornada nas Estrelas.
A maioria deles não admite críticas ao que gostam e tratam de personagens com reverência quase religiosa. Sobre o tema, a editora Senac lançou o livro Otaku - Os Filhos do Virtual, do escritor francês Étienne Barral.
Nascido em 1964 e formado pelo Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais da França, o autor vive no Japão desde 1986 e realizou um importante estudo sobre o fenômeno otaku direto na fonte. Ao longo de mais de 250 páginas, a obra mostra vários aspectos desse fenômeno social representado pelos otakus. Segundo o autor, são pessoas que se fecham num mundo imaginário, vivendo numa concha de isolamento social.
Mas os otakus não se restringem apenas a fãs de mangás. Existem otakus de todos os tipos; como os obcecados por filmes de monstros, jovens cantoras, games, pornografia virtual e uma infinidade de assuntos. Cada aspecto da cultura pop japonesa gera segmentos de otakus. Há casos de colecionadores de miniaturas que criam uma relação imaginária com pequenas bonecas, com quem conversam ao chegar em casa depois de um cansativo dia de trabalho.
Com uma abordagem séria e sintonizada com a realidade, o livro expõe o que leva uma pessoa a se isolar do mundo real, buscando no mundo da fantasia uma válvula de escape para suas angústias e sua incapacidade de convívio social e relacionamento humano.
Dos mais moderados aos seriamente perturbados, os genuínos otakus são geralmente diferentes dos nerds americanos, pois são resultantes de uma sociedade altamente opressiva como a do Japão e não necessariamente são ou foram bons alunos. O livro expõe um fenômeno que se faz presente no Brasil como uma tribo urbana e já foi tema de reportagens na grande imprensa.
Na verdade, o livro mostra um cenário muito diferente daquele vivido pelos chamados otakus brasileiros. No Brasil, o termo otaku é usado apenas para denominar os fãs de mangás e desenhos japoneses. Aqui, até por questões culturais, os otakus são mais desencanados e gostam de coisas variadas, andam em turma, buscam um convívio social. Diferente do que ocorre no ambiente otaku japonês, o brasileiro gosta mais de andar em grupo, a presença feminina é grande e é comum ver casais de namorados em convenções.
O otaku brasileiro tem na verdade pouco a ver com sua contraparte nipônica, apesar de aqui existirem também os que são radicais em busca de eterna auto-afirmação, exaltando os valores de seus desenhos preferidos e desdenhando o que vem de fora do Japão.
O livro é leitura obrigatória para interessados em quadrinhos, psicologia, sociologia, cultura pop e, principalmente, para quem se considera um otaku e nunca leu nada a respeito. Ou que pode ser um otaku e não faz idéia. Sobre isso, certa vez um jovem respondeu, ao ser questionado em um programa de TV, que um otaku não é muito diferente de um torcedor fanático de futebol. Existirá, em diferentes medidas, um pouco de otaku dentro de cada um de nós? Leia o livro e tire suas conclusões.
Postado originalmente no blog Sushi Pop
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