Por Pedro Campos
- Você esta falando de Deus?
- Não. De padrões.
- Estou dizendo que não importa o que você leia, ou ouça, ou a sua opnião. – continuou – O mesmo vale para essa coisa que fascina você, o fim do mundo, as vezes em que ele não acabou… Tudo tem um significado. Até mesmo aquilo que não significa nada. Como o ruído que você ouve quando troca de estação em um rádio velho. São padrões. Ou seriam, caso as pessoas soubessem decifrá-los. Não existe ruído.
- Você é um místico, Reed.
- É só uma reação racional à segunda metade do século XX. Mas talvez não exista o que chamam de reação irracional.
Existem, provavelmente, poucas parcerias que dão tão certo mundo afora. Lúcio Costa e Niemeyer, Erasmo e Roberto Carlos, John Lennon e Paul McCartney. O mesmo vale para Neil Gaiman e Dave Mckean (but… that is just my opinion).
Sei que chega a soar como arrogância ou até mesmo a opinião infantil de um fã quanto a seus ídolos, mas poucas vezes pude apreciar trabalhos tão interessantes quanto os feitos por essa dupla.
Logo de cara me entrego: não li todos os trabalhos deles. Ainda falta Violent Cases - inédito no Brasil – para completar. Em todo caso, acho que eles não têm como me decepcionar. Não depois de Mr. Punch (leia minha resenha aqui) e, agora, Sinal e Ruído.
Sinopse: Em Londres, um diretor de cinema descobre que está com câncer e tem pouco tempo de vida. Ele estava para iniciar a produção do que seria seu maior filme: a história de um vilarejo na Europa Central durante os últimos minutos do ano de 999 d.C., aguardando a vinda do apocalipse. Agora esse roteiro jamais será filmado. No entanto, ele continua trabalhando na produção em sua mente, fazendo um filme que ninguém jamais verá. Ninguém a não ser você.
Desde o começo, acho engraçado perceber a ironia óbvia da história. Um diretor escrevendo sobre o fim do mundo quando o mundo esta realmente terminando para ele. Bem ou mal, isso nos coloca em uma perspectiva diferente do que estamos acostumados a ver (ao menos eu).
Nas primeiras páginas, já nos deparamos com os dois fatos principais da história. Um diretor anuncia que esta preparando o seu melhor trabalho e o mesmo diretor recebe a noticia de que possui câncer e que tem pouco tempo de vida. Não o suficiente para completar sua grande obra.
Gaiman tem uma forma de contar histórias bastante peculiar. Suas metáforas psicodélicas devem se tornar algo verdadeiramente desafiador para qualquer desenhista que fica encarregado de suas adaptações.
Sua grande “carta na manga” sempre foram os personagens. Entendo perfeitamente que uma coisa não existe sem a outra, porém, seus personagens são tão interessantes que muitas vezes me desligo do roteiro só para tentar conhecer um pouco mais de cada um daqueles que nos são apresentados. Nos quadrinhos isso parece um pouco mais fácil, mas talvez menos divertido, devido à falta de liberdade do leitor em imaginar tudo sozinho.
Não são raras as vezes que me vejo lendo não uma, mas várias vezes a mesma obra em busca de uma melhor compreensão da história, buscando aproveitamento máximo de tudo que é mostrado.
Com uma habilidade fantástica para escolher os artistas com quem trabalha, pode apostar, essa é a “segunda carta na manga”. É muito evidente o quanto Gaiman e Mckean se compreendem e se respeitam em cada trabalho. No caso de Sinal e Ruído, talvez a mão de Mckean esteja mais presente do que a de Gaiman. É absurdo como esse artista consegue se expressar em imagens. Não existem muitas palavras que podem descrever a qualidade que ele nos apresenta.
Falo isso devido à natureza existencialista da história. Filosofias sobre a vida acontecem a cada página e chega a ser complicado distinguir se estamos falando do mundo real ou estamos dentro da cabeça desse diretor, que, por certo minimalismo, não tem nome (e precisa?). Novamente nos pegando em ironias, há uma passagem da história muito interessante, onde o diretor cita: “Você só morre de fato quando a última pessoa que o conheceu estiver morta”. JUST A FUCKING MINUTE!!! Nós nem ao menos sabermos o nome deste senhor!!!
Não tem para onde correr. Quem não leu, leia. Quem não se interessar, vá catar coquinho. Chega a ser obrigatório para qualquer fã de quadrinhos ler essa obra. Ler outras obras. Ler todas as obras desses dois. Não há um centavo sequer de arrependimento no dinheiro gasto. A Conrad ajuda muito nisso, dando a qualidade necessária e digna para tamanha obra. Publicado pela primeira vez em 1989, na revista inglesa The Face, em 1992 sofreu revisão e foi publicada como uma graphic novel e em 2000 foi adaptada para o rádio. A edição brasileira ainda vem com diversos extras em novos desenhos e material, sem falar na capa dura. Não vá embora sem passar por essa experiência. Afinal, “o mundo esta sempre acabando para alguém”. Eu acho que preciso de uma bebida…
Editora: Conrad Editora - Edição especial
Autores: Neil Gaiman (roteiro), Dave McKean (arte) – Originalmente em Signal to noise.
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Abril de 2010 (Brasil) 1989 (EUA).
Resenha postada originalmente no site Pula Pirata
Gaiman tem uma forma de contar histórias bastante peculiar. Suas metáforas psicodélicas devem se tornar algo verdadeiramente desafiador para qualquer desenhista que fica encarregado de suas adaptações.
Sua grande “carta na manga” sempre foram os personagens. Entendo perfeitamente que uma coisa não existe sem a outra, porém, seus personagens são tão interessantes que muitas vezes me desligo do roteiro só para tentar conhecer um pouco mais de cada um daqueles que nos são apresentados. Nos quadrinhos isso parece um pouco mais fácil, mas talvez menos divertido, devido à falta de liberdade do leitor em imaginar tudo sozinho.
Não são raras as vezes que me vejo lendo não uma, mas várias vezes a mesma obra em busca de uma melhor compreensão da história, buscando aproveitamento máximo de tudo que é mostrado.
Com uma habilidade fantástica para escolher os artistas com quem trabalha, pode apostar, essa é a “segunda carta na manga”. É muito evidente o quanto Gaiman e Mckean se compreendem e se respeitam em cada trabalho. No caso de Sinal e Ruído, talvez a mão de Mckean esteja mais presente do que a de Gaiman. É absurdo como esse artista consegue se expressar em imagens. Não existem muitas palavras que podem descrever a qualidade que ele nos apresenta.
Falo isso devido à natureza existencialista da história. Filosofias sobre a vida acontecem a cada página e chega a ser complicado distinguir se estamos falando do mundo real ou estamos dentro da cabeça desse diretor, que, por certo minimalismo, não tem nome (e precisa?). Novamente nos pegando em ironias, há uma passagem da história muito interessante, onde o diretor cita: “Você só morre de fato quando a última pessoa que o conheceu estiver morta”. JUST A FUCKING MINUTE!!! Nós nem ao menos sabermos o nome deste senhor!!!
Não tem para onde correr. Quem não leu, leia. Quem não se interessar, vá catar coquinho. Chega a ser obrigatório para qualquer fã de quadrinhos ler essa obra. Ler outras obras. Ler todas as obras desses dois. Não há um centavo sequer de arrependimento no dinheiro gasto. A Conrad ajuda muito nisso, dando a qualidade necessária e digna para tamanha obra. Publicado pela primeira vez em 1989, na revista inglesa The Face, em 1992 sofreu revisão e foi publicada como uma graphic novel e em 2000 foi adaptada para o rádio. A edição brasileira ainda vem com diversos extras em novos desenhos e material, sem falar na capa dura. Não vá embora sem passar por essa experiência. Afinal, “o mundo esta sempre acabando para alguém”. Eu acho que preciso de uma bebida…
Editora: Conrad Editora - Edição especial
Autores: Neil Gaiman (roteiro), Dave McKean (arte) – Originalmente em Signal to noise.
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Abril de 2010 (Brasil) 1989 (EUA).
Resenha postada originalmente no site Pula Pirata
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