sexta-feira, 16 de março de 2012

Mortos Entre Vivos

Mortos-vivos que não caçam humanos para comer seus miolos? 
Estocolmo, Suécia, 13 de agosto de 2002. Seria mais um dia normal na capital do civilizado e pacato país com um dos melhores IDH do mundo, não fosse uma "epidemia" de cefaleia e o estranho comportamento dos aparelhos eletrônicos: eles simplesmente não desligam, mesmo quando desconectados da tomada. Prenúncio de fenômeno ainda mais extraordinário: os mortos revivem - inclusive os falecidos até alguns meses antes. De repente, eles se movem, andam, deixam as câmaras de refrigeração dos hospitais, falam (ou balbuciam algumas palavras, como crianças) e podem ser ouvidos arranhando a tampa de suas urnas funerárias, nos cemitérios.
Não se trata de zumbis devoradores de cérebros e transmissores de sua condição de "nem vivo, nem morto" por meio de mordidas. Pelo contrário, os "redivivos" - como passam a ser oficialmente chamados pelo governo - são entes queridos (o avô, o marido, a esposa, o filho, o neto) que todos gostariam de ter de volta ou ao menos por mais um tempo para corrigir erros, pedir perdão (ou perdoar), prorrogar a companhia em nome de momentos felizes e de afetos que a morte impediu de repetir ou de cultivar.

John Ajvide Lindqvist 
A ideia de "Mortos Entre Vivos" (Tordesilhas, 2012) pode parecer insossa e de mau gosto, mas as credenciais do escritor escandinavo John Ajvide Lindqvist são um voto a favor dele. O autor é responsável pelo profundo e vampiresco "Deixe-me Entrar" (editado em 2004 e nunca publicado no Brasil), livro que inspirou o filme cult sueco "Deixe Ela Entrar" (2008), com direito até a um remake produzido nos Estados Unidos. 
O retorno dos mortos-vivos despertará, nos vivos, sentimentos que ficaram interrompidos, culpas não resolvidas e poderá até matar a saudade pós-luto de quem ficou. Na trama, um célebre comediante terá sua mulher de volta. Enquanto isto, um jornalista, quer exumar o corpo do neto para tentar revivê-lo. O fenômeno leva as pessoas pensarem: Até que ponto, os zumbis têm alguma relação com as pessoas que foram em vida? 
Cheia de referências à cultura pop e com um forte tom psicológico, a obra de Lindqvist --publicada originalmente em 2005-- revisita o "mito" do zumbi, fixado de forma genial pelo cineasta George A. Romero.


"Mortos Entre Vivos"
Autor: John Ajvide Lindqvist
Editora: Tordesilhas
Páginas: 360
Preço: R$ 38,90

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