sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Guerra dos Gibis

A Guerra dos Gibis, do jornalista Gonçalo Junior, narra a chegada dos quadrinhos ao Brasil, vindos dos Estados Unidos em meados da década de 1930, pelas mãos do jovem jornalista Adolfo Aizen, funcionário do jornal O Globo.

Após mostrar a descoberta a Roberto Marinho - que não demonstrou o menor interesse -, Aizen lançou seu Suplemento Infantil no jornal A Noite. A novidade logo se tornou uma irresistível mania de crianças e adolescentes - e uma mina de ouro para editores de jornais e revistas, que se engalfinhavam na disputa por aquele mercado milionário.
As informações mostram que os gibis foram vitais para que Roberto Marinho erguesse o império televisivo da Rede Globo. E isso pouca gente sabe; e alguns que sabem fazem questão de não lembrar.
E Marinho não foi o único a se beneficiar dos quadrinhos para expandir sobremaneira seus negócios. A lista traz Assis Chateaubriand (responsável por O Guri e outros títulos), da extinta TV Tupi, e Victor Civita, da Abril.
Chama especialmente a atenção o episódio em que Roberto Marinho, numa manobra hábil, mas pouco ética, adquiriu os direitos de publicação dos personagens que até então eram sucesso no Suplemento Juvenil. Numa demonstração de respeito por seus leitores, Adolfo Aizen deu um "tapa com luva de pelica" no concorrente e ex-patrão, avisando na última edição das histórias que as continuações seriam vistas, em breve, no Globo Juvenil.
Além da interessante história da formação do mercado nacional, é extremamente rica a reconstrução do quadro da caça aos quadrinhos e da tentativa de censurá-los, por diferentes motivos. Alguns diziam que as histórias americanizavam as crianças; outros, que elas desestimulavam a leitura de livros; uns queriam materiais produzidos aqui; e havia até os que garantiam ser os gibis "formadores de criminosos", devido à violência contida nas páginas.
Mas é preciso ter em mente durante a leitura, que as HQs, então, eram uma novidade no mundo - e a informação não era tão disseminada como hoje. Assim, é possível identificar que havia, sim, críticas baseadas em puro desconhecimento - e receio - daquele meio de comunicação que crescia tanto; e outras movidas por intrigas e rixas pessoais. De febre juvenil e editorial, os quadrinhos passaram a ser duramente atacados por políticos, jornalistas, artistas, educadores, religiosos e toda sorte de palpiteiros, que enxergavam ali apenas "monstruosidades e imoralidades", "subliteratura infame", "analfabetismo, pobreza intelectual", "verdadeiras orgias de sadismo, pornografia e estupidez", "corrupção de menores", "mitologia truncada e monstruosa".
As histórias em quadrinhos mobilizaram as mais altas figuras da vida brasileira, como Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Jango, José Lins do Rego, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Leonel Brizola, Assis Chateaubriand, Carlos Lacerda, Victor Civita, Gilberto Freyre e muitos outros - alguns contra e outros a favor do que parecia ser o mal do século.
Na foto abaixo, Roberto Marinho e Adolfo Aizen.
O competente jornalista Gonçalo Junior levou mais de dez anos pesquisando em jornais, acervos de colecionadores e, principalmente, na biblioteca da Ebal; e o resultado é uma obra singular, simplesmente obrigatória para todos que desejam saber como os quadrinhos se estabeleceram em nosso país. O livro conta ainda com um caderno de fotos recheado de capas do primeiro número de cada gibi e um anexo com a legislação de censura - hoje, muito curiosa - que tentava pôr ordem no coreto.
Para os leitores mais novos, A Guerra dos Gibis causará espanto também quanto aos números. Pra se ter uma idéia, de 1953 a 1955, os três maiores editores do País, Adolfo Aizen, Roberto Marinho e Assis Chateaubriand, lançaram simplesmente 68 novos títulos. E as vendas de cada empresa eram sempre na casa dos milhões de exemplares.
Para quem acha que tudo se encontra na internet atualmente, este livro é a prova do contrário.

Dados do Livro:
Editora: Companhia das Letras
Autor: GONCALO JR.
Ano: 2004
Edição: 1
Número de páginas: 448
Acabamento: Brochura

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