Por Pedro (Kbsa) do site Pula Pirata
“He doesn´t remember IF his mother congratulated him or not, but He doesn´t care. He just wants to write. Just shut down from the world and write. Forget the typewriter was a present from you father. Forget you picked up smoking from your mom, and that you smoke your father´s favorite brand. Like your mother did when she congratulate you.”
Conheça Brás de Oliva Domingos, o milagroso filho do mais famoso escritor brasileiro. Brás passa os dias escrevendo o obituário de outras pessoas e à noite sonha se tornar um autor de sucesso – escrevendo o final das historias das pessoas, enquanto a sua história mal começou.
Mas ele iria ao menos perceber o dia em que sua vida começa? Seria quando ele conhece a garota dos seus sonhos? Ou, ate mesmo, quando ele tem seu primeiro beijo? É mais tarde, quando seu primeiro filho nasce? Ou cedo, quando ele encontra seu valor como escritor?
Todo dia na vida de Brás é quase como a página de um livro. Cada um revela a pessoa e os pensamentos que o fizeram como ele é: sua mãe e pai, seu filho e seu melhor amigo, seu primeiro amor e o amor da sua vida. E como em grandes histórias, cada dia tem uma virada que ele nunca consegue perceber…
Em Daytripper, vencedora do premio Eisner, os irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá contam a mágica, misteriosa e cinematográfica história sobre a vida em si – a jornada assustadoramente lírica que usa os momentos em silencio para perguntar grandes questões. (tradução livre)
*Essa resenha é baseada na versão Americana de Daytripper. Por esse motivo, as citações e imagens aqui contidas estão em sua língua original.
Daytripper é uma história em quadrinhos a muito almejada por mim. Não só por ter ganhado o prêmio Eisner, mas por ser um quadrinho que ganhou o Eisner feito por BRASILEIROS! (tema da vitória do Ayrton Senna). Isso mesmo. Fabio Moon e Gabriel Bá, irmãos gêmeos, são os autores e ilustradores dessa maravilhosa história sobre Brás de Oliva Domingos, um escritor de obituários para um jornal na cidade de São Paulo.
Curioso isso. Quando a profissão do protagonista nos é apresentada, a única referencia que possuo é o filme “Closer – Perto Demais” onde o personagem do Jude Law compartilha desse penoso trabalho. Seria essa uma inspiração? Não sei… Mas, se for, quero os créditos! Como nunca havia parado para pensar a respeito, devo agradecer de coração à gentileza dos gêmeos em, poeticamente, descrevê-la– através de outro personagem – da seguinte forma: “Look Brás, these people need some closure, and that´s why the obituaries are so important. Without this, they can´t really let go. Write about their sons, daughters and friends. They´re dead. Period. Help these people to accept it and let them move on.” GENIAL!
Sempre que leio qualquer HQ, vou logo procurando resenhas que possam esclarecer minhas dúvidas ou até mesmo acrescentar pontos de vistas que não havia pensado a respeito enquanto lia. Acaba que boa parte das vezes me vejo pensando muito igual ao que leio por ai e me sinto até um tanto frustrado, por poucas vezes conseguir contribuir com algo significativo com aqueles que me dão crédito e lêem minhas próprias reviews.
Em Daytripper não foi muito diferente, até certo ponto, mas me senti um ponto fora da curva em alguns aspectos. Penso um pouco diferente da maioria.
Desde a sinopse, o óbvio de lição que podemos tirar é a análise do que fazemos no dia a dia das nossas vidas, sem saber se aquele é o ultimo dia de nossa presente existência ou se teremos outros dias e podemos “deixar para estudar para a prova” na véspera. Dessa forma, será que estamos aproveitando de verdade a viagem? Será que vale a pena todo o estresse que passamos diariamente? Será que somos realmente felizes no momento que passamos?
Os questionamentos são muito mais pessoais do que simplesmente teóricos e por esse motivo talvez não mereça uma discussão muito profunda sobre o caso. Contudo, o melhor e mais válido questionamento talvez seja: O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO DA SUA VIDA?
A narrativa compartilha e estimula bastante esse questionamento.
A HQ foi lançada nos EUA em dez volumes, um para cada capítulo, pela editora VERTIGO. Em cada capítulo, vemos o dia – ou um punhado de dias -em algum momento marcante da vida de Brás.
(SPOILER ALERT) O mais interessante vem agora. Cada capítulo termina com um obituário de Brás de Oliva Domingos, informando sobre sua própria morte. Esse detalhe me deixou nesse tal ponto fora da curva por que, ao contrário do que meus colegas – a maior parte deles – pensou, eu realmente acredito que o herói morre dez vezes no decorrer da história. Não no sentido literal (isso não é MARVEL ou DC), mas no sentido metafórico/figurado.
A quantidade de informações e influências recebidas por Brás no decorrer de cada capítulo é tão grande que consegue transformar verdadeiramente a essência do personagem, ao ponto de o Brás anterior não mais existir. Morrer! Vou falar que isso me deixou com uma pulga atrás da orelha, pois me presentearam com a versão americana e não posso dizer que me orgulho da minha fluência em inglês. Por isso, passei alguns momentos indagando se não estaria faltando alguma página ou se eu teria que apelar para o dicionário. Pois, naquele momento, nada fazia sentido.Como todo bom preguiçoso, ignorando e continuando, torcendo para que mais para frente eu pudesse compreender melhor tudo aquilo, acabei tendo sorte. E foi exatamente isso que aconteceu!
Veja bem, não quero me prender só aos elogios. Até agora o meu Word indica que eu tenho umas 800 palavras e eu poderia fazer o dobro de elogios à obra. Se eu, que li o bloco com todos juntos, fiquei um pouco perdido no início, imagine quem leu os dez capítulos soltos, um a cada mês. Pior ainda, imagine o coitado que perdeu um deles no meio do caminho.
A arte é algo à parte. Corresponde maravilhosamente bem ao roteiro e o capricho do Bá e do Moon quanto à representação da época em que a história se passa é digno de menção honrosa. Desde o linguajar ao isqueiro usado, tudo ali esta apresentado de forma coesa e bela. Eles não se incomodam com algumas “licenças poéticas”, mas, ao invés de se tornar algo ruim, deixou tudo bem mais interessante. Em especial os primeiros capítulos que mostram Salvador, cidade onde passei 90% das minhas férias na infância, são maravilhosos a ponto de me tornar saudoso enquanto lia.
Nos EUA, Daytripper foi lançado pela VERTIGO e não posso elogiar muito a qualidade. Sei que é o estilo das HQ’s do mercado americano, mas papel de jornal desprestigia, na minha modesta opinião, o trabalho de qualquer artista gráfico. O mesmo não posso dizer da versão brasileira feita pela PANINI que ganhou capa dura e um papel de qualidade bastante superior. O preço se tornou decisivo e tenho o orgulho de informar que a versão brasileira esta saindo mais em conta no site da Saraiva. Basicamente podemos pagar menos e ter um produto de melhor qualidade. Isso é tão raro no país que enche meus olhos de lágrimas.
Estou completamente rendido. Daytripper deu-me um tapa na cara em diversos momentos e posso dizer que recomendo com muito fervor sempre que posso. É uma compra infalível.
Melhor que dar mais uma camisa nesse natal que esta chegando, não acha? Aproveitem e comprem logo!
Autores:Fábio Moon e Gabriel Bá (roteiro e arte).
Preço: R$ 46,90 (EUA) e R$ 43,40 (BRASIL)
Número de páginas: 256
Data de lançamento: Fevereiro de 2011 (EUA) e Setembro 2011 (BRASIL)
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